domingo, 25 de março de 2012

A Dama da Bacia O Mestre e o Saco

O som de um saco de latas zunindo na calçada, trazia consigo a Dama da Bacia, como também era chamada, a Senhora da Calçada. 
Arrastando o saco de plástico preto pontiagudo, alongava uma cerimoniosa conversa com seu mentor imaginário.
- Mestre Kong, ao afirmar que “devemos ter cuidado com os nossos pensamentos, porque eles determinarão nossas ações; ter cuidado com nossas ações porque elas determinarão os nossos hábitos; cuidado com os nossos  hábitos, porque eles determinarão o nosso destino” decerto estarei certa se afirmar que devemos ter cuidado com nosso destino, porque ele determinará a nossa cova, cuidado com nossa cova porque ela determinará nossa profundidade, cuidado com nossa profundidade porque ela determinará nossa loucura, cuidado com nossa loucura porque ela determinará nossa razão, cuidado com nossa razão porque ela determinará nossa solidão, cuidado com nossa solidão porque ela determinará nossa dor, cuidado com nossa dor porque ela determinará nossa amargura, cuidado com nossa amargura porque ela determinará nossas mágoas, cuidado com nossas mágoas porque elas determinarão nossa falta de perdão, cuidado com nossa falta de perdão porque ela determinará nosso orgulho, cuidado com nosso orgulho porque ele determinará nosso silêncio, cuidado com nosso silêncio porque ele pode esvaziar nosso coração.
Parou, sustentou o ar sem palavras, segurando o saco preto transpirando a cerveja.
- Diga Mestre Kong, decerto estarei certa... Prosseguiu, entregando sua voz à dobra da esquina, deixando para trás, a ressonante marca do pesado saco na calçada.
La Vecchia -1508de Giorgione  
 

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