Ludmilla estacionou o carro em uma vaga que mentalizara desde que saio de casa. Este exercício era infalível.
Orgulhosa de si apanhou sua bolsa de grife e fechos exagerados, contornando o casaco de marca renomada em seu antebraço. Apontou seus pés para fora do carro, vestidos em sapatos de etiqueta famosa, elevados em saltos finos e alongados. Fechou a porta, torcendo o corpo com exagerada feminilidade, quase clichê, quase perua, quase...ah! deixa pra lá! jogando o cabelo de alongamento definitivo para deleite do espaço que o acolheu.
Às suas costas, um rapaz de aparência duvidosa entre uma cor ou outra ou talvez sem banho, entoa com voz de malandro macho:
- Aí Madame! São cinco real!
Ludmilla arrebitou o queixo, alargou os dentes, engrossou a língua, e disse num único cuspe:
- Vai chamar urubu de minha loira! Quem achou a vaga fui eu!
E saiu, rebolando o vestido de tecido leve, gingando o salto sobre as pedras portuguesas da calçada, deixando para trás, um murcho malandro macho, macho da vida.